terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Zona Sul não é adversária do Rio

Excelente entrevista do Gabeira ao Jornal "O Dia" de hoje. Vale a pena dar uma lida.
Gabeira esperto, lúcido, a favor do Rio de Janeiro escapando pro futuro e empolgado com a Revolução.

Gabeira diz não ter vergonha de ser ‘o candidato preferido entre as pessoas mais instruídas’ e defende cidade unificada.
Bruno Astuto

Rio - A série de entrevistas ‘Os candidatos como você nunca viu’ traz hoje Fernando Gabeira, o candidato do PV à Prefeitura do Rio. Ele me recebeu em sua casa de uma maneira, digamos, que nenhum convidado apreciaria: “Você só tem vinte minutos”.

Lembrando que estamos também a poucos minutos das eleições, segui firme no propósito de mergulhar nos pensamentos desse político. Mas um probleminha doméstico o assola: Pequena, sua gatinha de estimação, de uma hora para outra decidiu virar terrorista e atacar passarinhos, logo a gata dele, um homem tão pacifista. Prioridades, se eleito, são quatro: “A gente vai começar com a bola no chão. Sentar, resolver quatro problemas: tapar os buracos, botar luz, podar as árvores e limpar as ruas”.

Está fazendo dieta para enfrentar a maratona?
Não, porque, na verdade, a gente está tendo tempo até para almoçar às vezes.

O que o povo lhe oferece na rua que você adora e o que você detesta?
Eu não como qualquer coisa. Não como carne, por exemplo. Nas feiras, gosto de frutas e fico feliz de banca em banca comendo frutas.

Esta campanha está sendo baixaria ou alto nível?
Eu tenho a impressão de que ela ainda não conseguiu achar sua identidade. Há tentativas de baixaria e tentativas de alto nível. A campanha ainda não começou a empolgar. Só agora, na reta final, é que começam a aparecer as verdadeiras personalidades por trás dos candidatos. A minha previsão é que o clima vá esquentar.

Vou dizer os nomes dos outros entrevistados e gostaria de que você fizesse um pequeno comentário a respeito. Solange.
Excelente deputada.

Molon.
Excelente pessoa, um excelente deputado estadual.

Jandira.
Uma pessoa extremamente trabalhadora e muito voltada para a saúde.

Eduardo Paes.
Muito dinâmico, teve uma participação como administrador, seria um bom síndico para o Rio de Janeiro.

Crivella.
Pacífico, tranqüilo, apesar de às vezes estar no olho do furacão da luta religiosa.

Você tem religião?
Tenho. Trabalho com os budistas. Quando o Dalai Lama vem ao Brasil, eu o recebo, faço negociações com o Itamaraty para que ele seja recebido, já que ele tem dificuldades por causa da China. Também tenho boas relações com o catolicismo, que é a minha religião de origem, onde fui educado. Tenho boa relação com as religiões africanas, com os batistas. Na verdade, eu partilho com muitos princípios de várias religiões.

Qual a crítica que mais o magoa?
Nenhuma crítica toca tão fundo, todas são de uma maneira geral bem recebidas. Algumas ofensas me tocam fundo. Quando é crítica, eu sempre trato no plano político. Quando é uma ofensa, fica mais difícil.

Você chora com facilidade?
Choro de emoção, de saudades, de raiva. Mas, de um modo geral, eu não choro. Procuro reagir da forma mais racional possível.

De que você sente saudades?
Muito difícil responder, porque eu estou com 67 anos. Foram tantos bons momentos, tantos lugares maravilhosos e tantas situações inesquecíveis, que você vê que a vida é muito boa. O período que eu passei na Suécia, sobretudo nos verões, foi inesquecível.

Que lugar mais o deslumbrou?
Londres é a cidade européia em que me sinto mais satisfeito como cidade grande.

Qual o livro da sua vida?
São vários, mas eu gosto de dois que me ensinaram a conduzir uma narrativa de forma mais econômica e enxuta possível, porque eu sou escritor. Um é ‘O Velho e o Mar’ de (Ernest) Hemingway e o outro é ‘O Estrangeiro’, de Albert Camus. São importantes para quem quer narrar alguma coisa. São objetivos, curtos e absolutamente completos no que querem.

E o filme da sua vida?
Sempre gostei de filmes pacifistas, que fazem uma crítica à guerra. ‘Glória feita de sangue’, por exemplo. E toda a filmografia italiana. “Oito e meio’, de Fellini, é maravilhoso. Gosto muito do (Ingmar) Bergman, sueco.

Você se diz pacifista. Quem hoje imagina que você já tenha participado da luta armada?
Eu também não me imagino. Não me arrependo, mas foi um equívoco porque fez com que a ditadura durasse um pouco mais que ela poderia durar.

Você saiu da luta armada como um pacifista e o José Dirceu, um dos prisioneiros políticos por quem você e seus companheiros trocaram o embaixador americano seqüestrado, tornou-se uma figura controversa.
Controversa pelos caminhos que ele escolheu. Eu acho o José Dirceu às vezes muito injustiçado sob um aspecto: todos os problemas que o PT viveu acabaram sendo atribuídos a ele. Ele ficou com o papel de vilão.

Voltar e sair do Partido dos Trabalhadores foi difícil?
Não, não foi difícil. Custou umas tardes de apreensão porque o processo estava se desenrolando de uma forma muito clara para mim. Aquele caminho não era o caminho que eu queria. Hoje eles estão até muito satisfeitos com a popularidade muito grande. Mas o nosso caminho tinha que ser de revisão da prática política, das relações entre os políticos, da redução da roubalheira. E isso não aconteceu.

Você é um verde que picha editorial de moda com casaco de pele? O que é ser verde?
Não. Quem faz esse trabalho nos Estados Unidos é o Peta, que trabalha especificamente com os direitos dos animais, não o Partido Verde. Eu sempre achei que o caminho melhor é o pedagógico. Se você quer realmente alterar uma situação, não adianta entrar no trilho da proibição, mas do diálogo, da conversa. No caso da moda, por exemplo, ela tem uma base material, mas também uma base muito subjetiva. Ela é uma combinação estética que as pessoas têm entre si.

A imagem da campanha pela legalização da maconha o ajuda ou o atrapalha?
No momento, nem ajuda nem atrapalha. Eu sou candidato a prefeito do Rio de Janeiro, não tem nada a ver. Não há nada hoje que me atrapalhe, a não ser o fato de a população não ter se dado conta do processo eleitoral.

Já chega ao ponto que isso o incomoda?
Não incomoda, não. Apenas é um registro de como as pessoas estão perdendo o ponto, como dizem os americanos. O ponto aqui é a campanha municipal, o que fazer com a cidade, que está atravessando uma crise profunda, um processo de desordem. A cidade está dominada parcialmente por grupos armados, cheia de buracos, é escura em muitos pontos. É o único lugar do Brasil que empobreceu nesses anos, que os pobres ficaram mais pobres.

Você é o candidato da Zona Sul?
Tem vários clichês, vários mitos que vão sendo desfeitos. O primeiro mito é esse, de que a Zona Sul é adversária do Rio. Então ser da Zona Sul é carregar uma vergonha, um fardo. Eu acho que nós queremos uma cidade unificada. Outros candidatos fingem que não são da Zona Sul e dizem que eu sou. Eu não tenho nenhuma vergonha de ser o candidato preferido entre as pessoas mais instruídas. Isso não é vergonha.

Qual é o seu programa povão?
Ando aqui em Ipanema de chinelo e bermuda. Vou a todos os lugares, vou de bicicleta ao Flamengo. Conheço e gosto de conhecer os porteiros, os taxistas.

E o momento high society?
Não tenho me permitido luxos ultimamente, mas, quando sou convidado para dar palestras, freqüento bons hotéis. Também tenho boas roupas, porque não sou de comprar muitas roupas baratas. Prefiro uma cara de boa qualidade e usá-la bastante.

Qual o seu primeiro ato no dia 2?
A gente vai começar com a bola no chão. Sentar, resolver quatro problemas: tapar os buracos, botar luz, podar as árvores e limpar as ruas.

E o primeiro decreto quando acabar a campanha, em nome da sanidade mental?
Preciso tirar dois dias. Não sei onde, mas para exatamente não pensar em nada, esvaziar a cabeça.

Já teve alguma desilusão amorosa?
Não, mas tive algumas separações na juventude, sim. Se não houvesse dor-de-cotovelo, a gente não poderia beber chope e ouvir samba-canção.

Já quebrou corações?
Eu não entendo assim, mas como um processo de caminhos que se cruzam e se desfazem. Você não quebra o coração. É uma interpretação equivocada, porque são liberdades que se juntam e às vezes se separam.

Você vive casado como antigamente.
Essa é a casa dela. Tenho um apartamento aqui perto e moramos juntos. O apartamento que eu tenho, minha filha está usando como consultório, pois se formou psicóloga. É um casamento convencional, sim.

O símbolo da liberdade sexual e de costumes encaretou?
Não sei se o fato de viver com uma pessoa entra em contradição com a liberdade sexual. A minha posição foi sempre a de liberdade.

Qual é a sua revolução agora?
Vivemos no auge da revolução digital. Estamos passando por uma nova época, a chamada a época do conhecimento. Não é à toa que eu estou propondo que o Rio de Janeiro se transforme na capital do conhecimento.


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As Pesquisas ou a Onda?

Eu fico com a onda sem qualquer sombra de dúvida. Nem tanto porque nós os cariocas adoramos o mar, mas pela impossibilidade de tentar barrar a onda.

Na campanha de 1982, eu, um dos malfadados “Luas Pretas”, resolvi na última semana de campanha dar um pulo até a Central do Brasil para ver a chamada reta final. Levamos algum material do Miro e um megafone para agitarmos naquele tradicional ponto de passagem de milhares de cariocas, eh eh. O nosso problema era como esconder tudo que levamos. O povão desembarcava do Metrô gritando Brizola na Cabeça! Chegavam na Gare da Central e ajudados pelo eco, transformavam o ambiente numa consagração do Brizola. Ali vimos que não tinha jeito. E não teve mesmo apesar da Proconsult, Ditadura, IBOPE, etc.

Estamos na reta final desta campanha pra prefeito da Cidade do Rio de Janeiro. Deixo para a sua reflexão três vídeos de campanha da semana passada.





sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Carta não Publicada

No domingo passado minha mulher enviou uma carta ao Jornal "O Globo" dirigida à consagrada seção "Cartas dos Leitores". Não publicaram uma pequena nota, que na verdade, ajudaria a confirmar o cuidado que os Marinhos têm com a Liberdade de Imprensa.
Segue a carta rejeitada:

Stalin Morreria de Inveja

Hoje, 14 de setembro de 2008, domingo, o Jornal O Globo conseguiu a proeza de, após duas chamadas de capa, colocar o nome do Lula em seis títulos de matéria interna, sendo que destas seis nomeações (como no Oscar mesmo) duas têm direito a foto. E mais duas fotos que ilustram matérias!!!
Pensei, vai ver que o dia do nosso guia ontem foi fabuloso, O Globo só está retratando a verdade. Pois bem, a Folha de São Paulo tem apenas um título na página cinco do caderno Dinheiro e no caderno Cotidiano uma foto (que na verdade ilustra uma matéria "contra" - a tal história do fumante).
Não satisfeita fui ao Jornal do Brasil e na página quatro do caderno A há uma foto para chamar a matéria da página 11, esta sim com o nome do Lula no título e mais uma foto. Na página 26 há também um título com o nome "dele".
Em suma, ninguém se compara ao O Globo em matéria de culto a personalidade!!!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Um Ex Blog com dificuldades

O prefeito da cidade conseguiu um bom nível na qualidade da informação que vem colocando em seu Ex Blog. Entretanto, no capítulo eleições municipais, pela fraqueza de sua candidata, optou por fazer campanha contra as demais candidaturas. Com tal escolha passa a ter uma postura panfletária e perde conteúdo. No seu Post de hoje, faz um comentário bizarro com relação ao programa de televisão do Candidato Fernando Gabeira.
Vejam aqui o programa do Gabeira:

http://www.youtube.com/watch?v=FTZmPiaRJLg&eurl=http://gabeira.com/gabeira43/?p=519

Agora é só ler os comentários do Prefeito:

NEOLIBERAL? O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?!

1. No programa eleitoral de ontem, Gabeira disse que vai gerir a prefeitura como uma empresa privada e que vai tratar o CIDADÃO como as empresas tratam o CLIENTE. O ex-presidente do Bacen de FHC pela segunda vez entrou no programa. Talvez esse texto lido em teleprompter pelo Gabeira tenha sido escrito coerentemente por ele.

2. De uma forma simples para se entender. A empresa estabelece com o cliente/consumidor uma relação onde procura garantir a maior taxa de lucro num quadro de satisfação do cliente com o produto, para que este seja um cliente permanente. O veículo que usa para isso é principalmente a sedução pela publicidade como forma de atração. O cliente/consumidor é um ator individual que busca o máximo de satisfação pessoal -qualidade/preço- a partir da elasticidade-renda para o produto que deseja comprar.

3. O governo estabelece com o cidadão uma relação político-social, onde interage e estabelece restas relações por sistemas internos. A oferta de seus serviços não é determinada individualmente com o cidadão, mas por decisão política muitas vezes estabelecida em lei (oferta de matriculas...). E pelas pressões da sociedade sobre os governos produzindo sinergia e também conflitos. O cidadão -nesse sentido- é um ator social e coletivo, e demanda para além de si mesmo, conscientemente ou não. A "conquista" do cidadão se dá por argumentação e demonstração com resultados e comparações com as alternativas.

4. A relação puramente de mercado entre governo e clientes é o que se chama de política de clientela, onde políticos conquistam o eleitor com favores pessoais. A isso se chama clientelismo.

5. Para sua própria biografia Gabeira deveria corrigir ou explicar o que disse. Nesse momento consegue ocupar o espaço da direita ultra-liberal, para a qual o estado deve ser mínimo e se possível apenas uma instituição operando com lógica empresarial. Lembre-se que no direito privado o individuo ou empresa pode fazer tudo que a lei não proíbe. Mas no direito público os governos só podem fazer aquilo que a lei determina ou agir nas restrições que impõe. Um choque o programa do Gabeira de ontem. Todos que o conheceram ficaram perplexos.


Tirando o fato de que ele também não resiste ao charme da frase que Gabeira consagrou no título que deu ao Post, nem de factóide poderemos acusar o Prefeito. Como ele deu recentemente uma entrevista ao Jornal o Dia, (está no Youtube), com mais de quarenta minutos de duração, consagrando Lenin, que está colocado numa foto entre ele e o entrevistador, imagino que seja muito difícil se livrar do esquerdismo que o marcou profundamente em toda a sua luta na Política.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

As Eleições Municipais, a Internet e a Justiça.

Recebi de um grande amigo um link de um artigo publicado no site Consultor Jurídico sobre a participação dos candidatos nas eleições de outubro. O artigo se chama “Confusão Eleitoral”, veja: http://www.conjur.com.br/static/text/69817,1

Um velho ditado chinês diz diante de algum acontecimento inesperado que “Pode ser bom, pode ser mau”. Parece este o caso da Justiça brasileira diante da Internet. Em primeira mão fica bastante curioso o fato de constatarmos uma manifestação federativa de nossa Justiça; cada Tribunal Regional se pronuncia e decide de maneira isolada e “própria”. Na verdade, todos tendo a certeza que enviando um emaranhado de posições diferentes ao TSE, todos estarão beneficiados pelo prazo. Quando o órgão superior se pronunciar, as eleições já terão ocorrido e o velho impedimento conseguido. Aí surge o primeiro pepino formal: será que para cada um dos candidatos também não valerá o efeito prazo?
Digamos que sou um simples candidato a Vereador de minha cidade e passo o tempo todo, com vários personagens “fakes” identidades virtuais falsas, atacando todos os demais candidatos que podem deslocar meus votos. Faço isto em diversos sites de relacionamento e ainda crio um site de denúncias com IP na Alemanha, etc. E aí senhores juízes, o que fazer?
A Internet é a fiel depositária de todo o saber humano, com ele toda a perversidade também está lá. Não adianta tentar regulamentar o que não pode nem poderá ser regulado. A rede é a nova sociedade apontando para novas formas de comportamento ético em cada um de seus nós, ou seja, cada indivíduo digital. Sem nos esquecermos de que a Geografia tem seus dias contados nesta nova sociedade. Valerão cada dia mais as comunidades humanas, demografias que lá se manifestam e lutam por seus interesses.
Fica fortemente patético que uma Toga queira impedir o que não é possível.
Mais que patético, a dramaticidade apontada no artigo citado que compara o fato do Tribunal Eleitoral brasileiro ser o órgão responsável pelo sistema de votação e apuração mais avançados do mundo contemporâneo, eh eh. Que fazer se nossa Justiça de velho mundo só entende de regular o impedimento?
No caso das redes tecnológicas a sabedoria do velho ditado chinês vai com certeza apontar para tudo que pode ser bom na nova sociedade.
Se eu fosse advogado diria para cada cliente candidato: - “Todo Poder às Redes Tecnológicas!”.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Onze de setembro – data trágica.

Hoje lembrei de Salvador Allende naquele 11 de setembro de 1973. As fotos e reportagens na TV mostrando a sangrenta derrubada de seu Governo democraticamente escolhido por seu povo. Os fascistas não agüentaram a consolidação de sua posição na sociedade tendo melhorado a representação política de seu governo nas eleições parlamentares e partiram para o golpe de Estado. Usaram o caminho da aniquilação e assassinaram Allende no Palácio de La Moneda, sede do Governo legítimo do Chile. Tempos de guerra fria e de lutas entre blocos ideológicos antagônicos. Chorei copiosamente naquele onze de setembro.

Ainda divagando, lembrei do onze de setembro de 2001. O ataque terrorista aos Estados Unidos da América. Estava voltando de um fim de semana na praia; um amigo ligou. Ficamos sem entender direito eu e minha mulher. Ligamos o rádio, maior perplexidade. O que era aquilo companheiro? Só mesmo plagiando o Gabeira. Cinco dias depois escrevi um texto, segue colado:

Onze de setembro de 2001.

“Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem.
Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final.
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial”
Caetano Veloso

Já existe e vem sendo vivida uma “Nova Ordem Mundial”, resistem os velhos podres poderes. A unidade dialética entre globalização versus fragmentação é o grande e novo processo da nossa contemporaneidade. Não dá para viver e pensar os nossos dias sem apreender este inédito movimento da História.

Como começar imaginando soluções pelos Estados? Procurando um novo “Concerto entre as Nações” preocupadas com o fim do terrorismo? Todos os Estados estão em cheque, funcionando como processos globalizantes e fragmentos ao mesmo tempo. São hoje produtos desta contradição, e não têm como sair dela, até sua mudança completa em novas sínteses ainda inimaginadas.

O que é mais terrível para o velho Império Norte Americano é se constatar atacado por forças que se organizam a partir do máximo de fragmentação possível; de vontades políticas e ideológicas instituintes que se caracterizam por não aceitar as regras do jogo da Institucionalização que os dominou nos últimos séculos. E estas forças atacaram graças aos mais sofisticados dispositivos globalizantes, em rede, usando as diversas redes institucionais e sendo rede. Chega a ser patético o Sr. Bush declarando que vai ganhar este xadrez mesmo sem as torres.

Nenhum compromisso com nenhuma das Éticas vigentes do velho mundo Ocidental ou mesmo do Oriente. Oriente e Ocidente: conceitos que já estão na lata do lixo da História que tinha a Geografia como uma espacialidade dimensionada. Tudo vira um ponto nas redes tecnológicas; as geografias transformam-se em demografias se apropriando dos tempos possíveis num espaço único e instantâneo. O Oriente é em Nova York, e Washington, a capital do Império, também é em Cabul.

Os Estados existentes, produto do desenvolvimento histórico até o esplendor do Capitalismo Industrial, sem exceção, têm em sua biografia algum tipo de vinculação com o terrorismo; ou porque o praticaram e ainda o praticam ou no mínimo porque foram e ainda são coniventes com essas atividades. O terrorismo contém sempre alguma chancela de Estado como pano de fundo de suas ações. E na maioria das vezes, em atos perpetrados contra suas próprias populações.

Está bem; - baseados em nosso teimoso e iluminista humanismo, imaginemos que a dimensão dos atos bárbaros e selvagens acontecidos em Manhattan na manhã do dia onze de setembro de 2001, sejam suficientes para que os Estados/Nações se sintam impelidos a um grande acordo de combate sem tréguas ao terrorismo. Imaginemos até o impossível e que os EEUU reflitam sobre a importância de um acerto desta monta e que recuem de decisões belicosas em nome de um conjunto de medidas que procurem por fim ao terrorismo; eh!eh!.

Controle internacional de venda de armas, controle internacional de pesquisas tecnológicas com clara intenção bélica, (o que seria isso, depois do uso de aviões comerciais com passageiros como armas letais?), transparência nas políticas de Estado com relação a expansão comercial e financeira, controle dos fluxos de capitais para impedir a lavagem do dinheiro chamado de sujo, aceitação de representação étnica de qualquer povoação que assim se manifeste, religiões respeitadas e controladas democraticamente para que não exacerbem ideologicamente tentando tomar o lugar dos Estados, em suma, todos os milhares de fragmentos construídos a partir do jogo bruto dos interesses, sob controle democrático numa grande rede global de consenso. Aí Fukuyama teria razão, teríamos cristalizado o movimento, a contradição dialética máxima de nosso tempo amarrada por normas de consenso mundial: - o fim da História.

O nosso humanismo perdendo a razão diante da dramaticidade do contemporâneo. É da lógica do fragmento não tomar conhecimento daquilo que se denomina ordem global, ou pelo menos tentar minimizar os efeitos da permanente tentativa de imposição. O fragmento é local, age localmente como o fez nas torres do World Trade Center e no edifício do Pentágono. E o fez usando a globalização com máxima eficácia.

É fundamental que não se caia na tolice ideológica de que tais processos tenham donos. Nem a globalização nem a fragmentação são de ninguém. Nenhum imperialista perverso ou um grupo deles manda ou sequer influencia a direção dos processos globalizantes a não ser como forças sociais que são partícipes de um novo modo social de produção. Da mesma maneira, nenhum auto denominado Partido de esquerda, ou líder carismático de qualquer nacionalidade controla os fragmentos a ponto de barrar o processo globalizante; insistir em procedimentos desta monta é pelo menos melancólico.

A contradição é mais aguda nas redes tecnológicas. Lá somos pequenos nós, pontos virtuais/reais, que demandam vontades/idéias, propondo o que bem entendemos, basta um clique e a realidade já é outra. São todos estes milhões de nós/fragmentos que constituem a rede global do conhecimento humano. E é esta rede que está agregando valor social ao processo produtivo de forma inimaginável.

Viver em rede desobriga a organização social clássica. Não precisamos mais de representações formais verticalizadas. Podemos e nos organizaremos em rede, para pensar e criar novas organizações sociais - novas “Polis”, novas Políticas. A confirmação da sociedade em rede irá possibilitar uma nova Ética para cada nó, para cada indivíduo digital.

Estou escrevendo estas linhas para colocar em rede. Num site de discussão do PPS, Partido político do qual faço parte, me incorporando assim num grupo de jurássicos que insistem em defender o humanismo de um mundo que desaparece. Não vou propor alternativas com ordem do dia e proposta numerada. Seria iluminismo demais. Prefiro as pauladas homéricas que levarei porque apresento um problema dramático e não apresento soluções.

Todas as Revoluções têm seus mortos, diz a frase clássica. Esta apresenta sua face trágica e aterradora prenunciando que outras torres serão demolidas. E o mais grave é que nem sequer vislumbramos o seu caráter político. Até o momento somente a Revolução Histórica e inexorável.

Raulino Oliveira, em 16/09/2001.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Aspásia Camargo promove um encontro civilizatório.

Fui convidado a comparecer na cerimônia de entrega de medalhas Pedro Ernesto na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro aos heróis de Guerra Isaack Kimelblat e Natan Kimelblat, hoje dia primeiro de setembro de 2008. Dois participantes da luta contra o Nazi-fascismo na chamada frente oriental da Guerra. Eles foram Partizans, guerrilheiros em defesa da URSS e de sua comunidade judaica durante a segunda guerra mundial.
Foi uma grande cerimônia, em defesa da humanidade e da liberdade.
Todos os presentes e eram muitos, se emocionaram com os depoimentos dos Cônsules da Rússia, da Bielo-Rússia e da Ucrânia, quando denunciaram a morte de mais de vinte e cinco milhões de pessoas pelos exércitos do Eixo. Eles venceram o terror e deixaram um imenso legado para a humanidade. Venceram inclusive pela feroz participação dos Partizans na luta pela resistência. Estes dois irmãos depois de seriamente feridos nas batalhas, depois de recuperados vieram para o Brasil e vivem desde então na nossa cidade do Rio de Janeiro. Temos dois Partizans vivos e cariocas em nosso meio! Ambos deram um emocionante depoimento.
Aspásia com toda propriedade, fez uma declaração defendendo o processo civilizatório contra a selvageria, chamando a atenção das dificuldades em que vive nossa cidade com a desordem urbana e a incapacidade do poder público em dar alternativa a toda esta crise em que o Rio está sufocado. Saí do evento com a certeza que presenciei um momento de defesa da civilização contra as barbáries de todos os tipos.
Vi-me fazendo um balanço deste final de agosto, que nos impede de dizer que setembro virá. Neste final de agosto estamos vivendo a quebra do Estado de Direito em nosso país promovida pelas artimanhas do centro duro de poder do PT. Aqui em nossa terra o Presidente do Supremo Tribunal federal foi “grampeado” numa conversa com um Senador da República. Lula que diz que vai investigar com rigor, declarou num discurso no fim de semana para gente simples de nosso país que o PT foi tão injustiçado durante a crise do mensalão durante o ano de 2005, que até acusaram o Partido de ter assassinado o Prefeito Celso Daniel do seu Partido Político. Como já postei neste Blog no dia 31/07/2008, (Doha a quem Doher), o verdadeiro Comitê Central deste Governo tem dois responsáveis pela morte de Celso, conforme amplamente divulgado em toda a imprensa brasileira. Como pode ser tão cínico o primeiro mandatário do país?
Nesta marcha acabaremos precisando de Partizans para enfrentar este protofascismo populista em que toda a nação está cada dia mais enredada.