quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Onze de setembro – data trágica.

Hoje lembrei de Salvador Allende naquele 11 de setembro de 1973. As fotos e reportagens na TV mostrando a sangrenta derrubada de seu Governo democraticamente escolhido por seu povo. Os fascistas não agüentaram a consolidação de sua posição na sociedade tendo melhorado a representação política de seu governo nas eleições parlamentares e partiram para o golpe de Estado. Usaram o caminho da aniquilação e assassinaram Allende no Palácio de La Moneda, sede do Governo legítimo do Chile. Tempos de guerra fria e de lutas entre blocos ideológicos antagônicos. Chorei copiosamente naquele onze de setembro.

Ainda divagando, lembrei do onze de setembro de 2001. O ataque terrorista aos Estados Unidos da América. Estava voltando de um fim de semana na praia; um amigo ligou. Ficamos sem entender direito eu e minha mulher. Ligamos o rádio, maior perplexidade. O que era aquilo companheiro? Só mesmo plagiando o Gabeira. Cinco dias depois escrevi um texto, segue colado:

Onze de setembro de 2001.

“Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem.
Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final.
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial”
Caetano Veloso

Já existe e vem sendo vivida uma “Nova Ordem Mundial”, resistem os velhos podres poderes. A unidade dialética entre globalização versus fragmentação é o grande e novo processo da nossa contemporaneidade. Não dá para viver e pensar os nossos dias sem apreender este inédito movimento da História.

Como começar imaginando soluções pelos Estados? Procurando um novo “Concerto entre as Nações” preocupadas com o fim do terrorismo? Todos os Estados estão em cheque, funcionando como processos globalizantes e fragmentos ao mesmo tempo. São hoje produtos desta contradição, e não têm como sair dela, até sua mudança completa em novas sínteses ainda inimaginadas.

O que é mais terrível para o velho Império Norte Americano é se constatar atacado por forças que se organizam a partir do máximo de fragmentação possível; de vontades políticas e ideológicas instituintes que se caracterizam por não aceitar as regras do jogo da Institucionalização que os dominou nos últimos séculos. E estas forças atacaram graças aos mais sofisticados dispositivos globalizantes, em rede, usando as diversas redes institucionais e sendo rede. Chega a ser patético o Sr. Bush declarando que vai ganhar este xadrez mesmo sem as torres.

Nenhum compromisso com nenhuma das Éticas vigentes do velho mundo Ocidental ou mesmo do Oriente. Oriente e Ocidente: conceitos que já estão na lata do lixo da História que tinha a Geografia como uma espacialidade dimensionada. Tudo vira um ponto nas redes tecnológicas; as geografias transformam-se em demografias se apropriando dos tempos possíveis num espaço único e instantâneo. O Oriente é em Nova York, e Washington, a capital do Império, também é em Cabul.

Os Estados existentes, produto do desenvolvimento histórico até o esplendor do Capitalismo Industrial, sem exceção, têm em sua biografia algum tipo de vinculação com o terrorismo; ou porque o praticaram e ainda o praticam ou no mínimo porque foram e ainda são coniventes com essas atividades. O terrorismo contém sempre alguma chancela de Estado como pano de fundo de suas ações. E na maioria das vezes, em atos perpetrados contra suas próprias populações.

Está bem; - baseados em nosso teimoso e iluminista humanismo, imaginemos que a dimensão dos atos bárbaros e selvagens acontecidos em Manhattan na manhã do dia onze de setembro de 2001, sejam suficientes para que os Estados/Nações se sintam impelidos a um grande acordo de combate sem tréguas ao terrorismo. Imaginemos até o impossível e que os EEUU reflitam sobre a importância de um acerto desta monta e que recuem de decisões belicosas em nome de um conjunto de medidas que procurem por fim ao terrorismo; eh!eh!.

Controle internacional de venda de armas, controle internacional de pesquisas tecnológicas com clara intenção bélica, (o que seria isso, depois do uso de aviões comerciais com passageiros como armas letais?), transparência nas políticas de Estado com relação a expansão comercial e financeira, controle dos fluxos de capitais para impedir a lavagem do dinheiro chamado de sujo, aceitação de representação étnica de qualquer povoação que assim se manifeste, religiões respeitadas e controladas democraticamente para que não exacerbem ideologicamente tentando tomar o lugar dos Estados, em suma, todos os milhares de fragmentos construídos a partir do jogo bruto dos interesses, sob controle democrático numa grande rede global de consenso. Aí Fukuyama teria razão, teríamos cristalizado o movimento, a contradição dialética máxima de nosso tempo amarrada por normas de consenso mundial: - o fim da História.

O nosso humanismo perdendo a razão diante da dramaticidade do contemporâneo. É da lógica do fragmento não tomar conhecimento daquilo que se denomina ordem global, ou pelo menos tentar minimizar os efeitos da permanente tentativa de imposição. O fragmento é local, age localmente como o fez nas torres do World Trade Center e no edifício do Pentágono. E o fez usando a globalização com máxima eficácia.

É fundamental que não se caia na tolice ideológica de que tais processos tenham donos. Nem a globalização nem a fragmentação são de ninguém. Nenhum imperialista perverso ou um grupo deles manda ou sequer influencia a direção dos processos globalizantes a não ser como forças sociais que são partícipes de um novo modo social de produção. Da mesma maneira, nenhum auto denominado Partido de esquerda, ou líder carismático de qualquer nacionalidade controla os fragmentos a ponto de barrar o processo globalizante; insistir em procedimentos desta monta é pelo menos melancólico.

A contradição é mais aguda nas redes tecnológicas. Lá somos pequenos nós, pontos virtuais/reais, que demandam vontades/idéias, propondo o que bem entendemos, basta um clique e a realidade já é outra. São todos estes milhões de nós/fragmentos que constituem a rede global do conhecimento humano. E é esta rede que está agregando valor social ao processo produtivo de forma inimaginável.

Viver em rede desobriga a organização social clássica. Não precisamos mais de representações formais verticalizadas. Podemos e nos organizaremos em rede, para pensar e criar novas organizações sociais - novas “Polis”, novas Políticas. A confirmação da sociedade em rede irá possibilitar uma nova Ética para cada nó, para cada indivíduo digital.

Estou escrevendo estas linhas para colocar em rede. Num site de discussão do PPS, Partido político do qual faço parte, me incorporando assim num grupo de jurássicos que insistem em defender o humanismo de um mundo que desaparece. Não vou propor alternativas com ordem do dia e proposta numerada. Seria iluminismo demais. Prefiro as pauladas homéricas que levarei porque apresento um problema dramático e não apresento soluções.

Todas as Revoluções têm seus mortos, diz a frase clássica. Esta apresenta sua face trágica e aterradora prenunciando que outras torres serão demolidas. E o mais grave é que nem sequer vislumbramos o seu caráter político. Até o momento somente a Revolução Histórica e inexorável.

Raulino Oliveira, em 16/09/2001.

2 comentários:

Mara Chuairi disse...

Mesmo passado 7 anos, está atualíssimo, provavelmente por que, lá, o artigo falava do futuro.

Tawanny disse...

Um grande Beijo para o Vovô velhinho na rede.
Taw,Raul e Julia :)
Saudades...