quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama e o Fim do “Eixo do Mal”



Milhares, talvez milhões de imagens de Obama na Internet; escolhi esta pela importância que a famosa telinha teve nas eleições norte americanas e principalmente na vitória de Barack Obama.

Sua primeira dura batalha foi contra Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata. Lá já se configurou a importância da Internet, principalmente no sistema de arrecadação entre as duas candidaturas. Hillary optou pelo processo tradicional de grandes contribuintes enquanto que Obama já havia iniciado seu sistema de aceitar doações populares e pequenas via Internet. Vejam que se tratava de uma luta envolvendo ineditismo em ambas as candidaturas: a primeira mulher contra o primeiro negro que postulavam a presidência dos Estados Unidos, mas a rede ficou com Obama.

Obama, entretanto, tinha tido seu momento “contra Severino Cavalcanti” numa atitude extremamente corajosa. O discurso feito às vésperas da invasão ao Iraque, quando a maioria das lideranças democratas embarcava no belicismo de Bush, mais uma vez com medo de ser prejudicada eleitoralmente com o rótulo de “suave com os terroristas”. Num momento em que mais de 70% da população americana apoiava a guerra, Obama expressou o ponto de vista dominante no resto do planeta: a guerra era imoral e injustificada.

Cabe aqui assinalar algumas iniciativas de Obama como parlamentar para desmascarar uma das últimas tentativas da mídia tradicional de que ele era um político inexperiente. A trajetória de Obama no Senado Federal revela um legislador cuidadoso e preocupado com a efetividade de seus projetos nas grandes questões da atualidade.

1) Lei que regulamenta o financiamento e os procedimentos para a eliminação de armas nucleares e convencionais;
2) Lei que especifica punições para fraudes eleitorais e intimidação de eleitores, problema crônico nos EUA, especialmente nas regiões pobres e negras;
3) Legislação que cria uma comissão para fiscalizar a ética no Congresso, com amplos atributos para investigar e punir subornos ou atividades ilegais de lobistas;
4) Lei que, pela primeira vez, dirigiu a atenção do Senado para a gripe aviária e balizou a pesquisa e formas de combate-la;
5) Lei que regulamentou os planos de saúde para veteranos de guerra, incluído o tratamento dos distúrbios pós-traumáticos;
6) Legislação que proíbe a FEMA (agência encarregada das emergências) de contratar empresas sem licitação, prática escandalosamente comum, de New Orleans a Bagdá;
7) Legislação que cria um banco de dados público, na internet, com os gastos do governo federal;
8) Lei – também elogiada por especialistas – que regulamenta os processos judiciais contra médicos e hospitais, sem tirar os direitos dos pacientes vítimas de abuso real;
9) Legislação que regulamenta os gastos de governantes com viagens;
10) Lei que limita severamente a atividade de lobistas no Congresso;
11) Lei que proíbe e regulamenta a punição por práticas enganosas nas eleições federais;
12) Legislação que aumenta a segurança nas atividades das indústrias químicas;
13) Lei que torna ilegal a venda de dados pessoais por companhias que elaboram o imposto de renda de terceiros;
14) Adendo intitulado “Iraq War De-Escalation Act”, que reduz o número de tropas e estabelece prazos para a saída dos americanos do Iraque.
(relação retirada do Blog http://politicanadaimparcial.blogspot.com/).

Assim começará a era de Barack Obama:
- Desmontando a rancorosa posição do Governo Bush de que há um “Eixo do Mal” e que contra ele o mundo deveria estar permanentemente mobilizado.
- Trabalhar politicamente pela desnuclearização dos armamentos militares no mundo
- O presidente dos Estados Unidos vai dialogar com adversários e inimigos, colocando em desuso a retórica do medo consagrada pelos Governos republicanos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Sogro, mais um belo texto. Outras tantas considerações, informações, observações importantes sobre o mundo em que vivemos. Velhinho, seu tempo é hoje! Aproveito para citar o artigo imperdível do Merval no Globo de hoje, sobre a histórica e emocionante vitória de Obama. Merece a publicação no seu blog. Um beijo grande, Nora.

Comba Marques Porto disse...

Muito bom! Adorei as informações sobre a atividade parlamentar do Obama.
Há no O Globo de hoje um artigo da Julita Lengruber sobre a campanha do Obama, muito semelhante à nossa campanha do Gabeira. mais uma vez, confirmei o acerto de minha escolha política. Estamos à frente e com Obama, é claro!

Anônimo disse...

Caro Velhinho,

Gostei das suas considerações. Aí vão as minhas:

As forças hegemônicas que assassinaram os irmãos Kennedy e o pastor Luther King nos anos Sessenta do século passado foram as mesmas que por dentro da CIA, do Pentágono e do Departamento de Estado norte-americanos engendraram as ditaduras militares no Cone Sul. Este é um dado histórico incontestável e comprovado. Tratou-se de ações ditadas pelo complexo industrial-militar norte-americano que incentivava governos de força em todo o sul do Continente americano apoiando-se na propalada incapacidade das lideranças democráticas locais civis para deter o chamado “perigo vermelho” emanado de Moscou, Havana e Pequim. Essa foi a visão do poder hegemônico dos EUA em relação à América Latina até Jimmy Carter.

O complexo industrial-militar no Hemisfério Norte, especialmente nos EUA, movimenta hoje parte substancial da economia mundial, não podendo ser tratado com a leveza com que o faz Obama em seu proselitismo de campanha. Afirmar que vai retirar as tropas do Iraque sem lhes dar outro destino bélico é de uma leviandade sem par, já ironizada por seu oponente nesta campanha, em que pese ser a paz mundial o grande e uníssono desejo da Humanidade. Como o fim da degradação ambiental também o é sem que por isso o atual modelo capitalista industrial tenha qualquer chance de ser alterado abruptamente. A força desse Complexo é de tal ordem que já movimenta o quase incontrolável programa paramilitar dos mercenários da Blackwater, dentro do Iraque, com a silenciosa conivência e o beneplácito do governo norte-americano, envolvendo perigosamente a importação de combatentes colombianos desempregados com o iminente colapso das FARC. É uma nova versão da Legião Estrangeira francesa globalizada, mais sofisticada e obviamente mais bem organizada do ponto de vista empresarial.

O “perigo vermelho” deste nosso momento histórico, na visão dessas forças hegemônicas continentais e que o pragmatismo intelectual (inclusive de boa parte da nossa esquerda) vê com clareza, não é mais a expansão comunista, depois da queda do Muro de Berlim. Foi substituído pelo “eixo do mal” de George W. Bush. A ameaça em que se constituem os projetos nucleares do Irã e da Coréia do Norte, aliada à nova face do terrorismo de Bin Laden e seu exército de fanáticos seguidores espalhados pelo mundo, oficialmente treinado na Síria e adjacências, é o verdadeiro foco das novas políticas engendradas neste momento no coração da CIA, do Pentágono e Departamento de Estado norte-americano.

Caso Obama não mude rapidamente o discurso de campanha e a ação de governo em relação ao tema poderá certamente ser varrido do cenário como o foram seus ingênuos antecessores democratas que enfrentaram de peito aberto o cruel pragmatismo do complexo industrial-militar norte-americano. Rei morto, rei posto. No dia seguinte, um sucessor mais confiável estaria no poder e tudo voltaria ao seu curso anterior. Obama seria hoje a grande e incômoda pedra no sapato da indústria bélica.

Se já está complicado, para a atual indústria automobilística, sobreviver a este tsunami do mercado que deve ser a perestroika e a glasnost do capitalismo e que já é objeto prioritário do gabinete de transição de Obama, imagine-se a indústria bélica...

Abraço e parabéns pelo Blog,

Cabo NPLeme

Unknown disse...

Raulino,

Como sempre você consegue em poucas palavras e de forma clara, como deve ser a linguagem do ambiente virtual ( conteúdo e rapidez )definir um pouco esse momento único...

A apresentação do trabalho do senador Obama é auto explicativo sobre o que significa a chegada dele na Casa Branca.

Mostra que estamos diante de talvez do momento mais importante da politica mundial, desde o derrota do nazismo e facismo na segunda guerra mundial.

Apenas dois pontos do discurso do obama já são capazes de promover uma revolução no planeta: a busca pela mudança da matriz energética americana - esperança de sobrevivência para a humanidade. A implantação da democracia no mundo pelo convencimento e tolerância e não pela ação dos mariners e pelas bombas é outra revolução, para ficar apenas nisso...

Se ele conseguir mudar um pouco a forma do establishment americano lidar com o mundo, já teremos uma nova fase mundial... agora é torcer para que ele consiga mudar as coisas.

Sim, isso é possível!

Mara Chuairi disse...

Como a discussão avançou, cresceu!
Tenho medo que os "maluco" querem matá-lo, é triste, mas desde o Velho Oeste os americanos resolvem seus problemas a bala.
Matam os inimigos ao invés de tentar as saídas políticas, vamos torcer para desta vez não ser assim.